Campo dos milagres | Sextante
Livro

Campo dos milagres

Hannah Luce

Uma história real sobre o reencontro com a fé e a esperança

Uma história real sobre o reencontro com a fé e a esperança

Apesar do que passei, minha história é sobre esperança e fé. Esperança por ter provado que, mesmo após uma grande adversidade, podemos ter uma vida boa e com propósito. Fé por saber que é possível ver o divino, basta abrirmos os olhos.” – Hannah Luce

Em 11 de maio de 2012, um pequeno avião com cinco amigos caiu no meio de um milharal no Kansas, deixando apenas uma sobrevivente: Hannah Luce, na época com 22 anos, filha de um renomado evangelista.

Hannah sempre seguiu o caminho que a família traçou para ela, se formando em uma universidade cristã e assumindo uma posição de destaque no ministério de seu pai. Mas questionava constantemente suas convicções religiosas. Até que ponto tudo que ela tinha aprendido era verdadeiro?

Depois daquele dia fatídico, Hannah se viu física e mentalmente devastada. Por que tinha sido poupada? Como explicar os acontecimentos milagrosos que garantiram sua sobrevivência?

Aos poucos, ela conseguiria desenvolver uma nova forma de fé, que iria acrescentar significado à sua vida e ao mesmo tempo honrar a memória de seus melhores amigos. Campo dos milagres é uma história real inspiradora e comovente sobre reinvenção pessoal, família e amizade.

****

“Um livro de memórias fascinante, escrito com uma sofisticação espiritual surpreendente. A história de Hannah serve como um microcosmo trágico de uma geração inteira na busca pela própria fé.” – Publishers Weekly

Campo dos milagres suscita uma reflexão profunda sobre a vida, abordando questões complexas que muitas vezes ficam sem resposta, simplesmente por não terem uma. A história de vida de Hannah, contada de forma totalmente honesta, evidencia uma coragem sem igual, inspirando as pessoas e dando a elas força para questionar, escutar e suportar.” – Jessica Buchanan, autora de Impossible Odds

 

Hannah Luce estava bastante empolgada para viajar com os amigos. Todos preferiram ir de avião para chegar mais rápido ao aguardado evento, mas um trágico acidente iria interromper seus planos. Logo que a aeronave parou no solo, no meio de um milharal, Hannah se afastou dos escombros e reparou que seu amigo Austin também tinha conseguido sair de lá.

Mesmo com ferimentos e queimaduras graves, os dois conseguiram chegar a uma estrada onde pediram ajuda. O amigo se revelou a motivação de que Hannah precisava para não sucumbir, pois permaneceu acordado e tentou cuidar dela quando o próprio corpo estava totalmente dilacerado. Infelizmente, ele morreria no dia seguinte.

Após o incidente, Hannah precisou encontrar forças para superar a perda e a culpa e, nesse esforço, resolveu contar sua história. Em um relato emocionante, ela fala não apenas sobre o que aconteceu no dia do acidente e sua longa recuperação, mas sobre como essa fatalidade a fez encontrar a resposta de que precisava para redefinir o significado da fé em sua vida.

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Ficha técnica
Lançamento 01/04/2015
Formato 14 x 21 cm
Número de páginas 240
Peso 300 g
Acabamento BROCHURA
ISBN 978-85-431-0181-1
EAN 9788543101811
Preço R$ 29,90
Ficha técnica e-book
eISBN 9788543101828
Preço R$ 19,99
Conteúdos especiais
Lançamento 01/04/2015
Título original
Tradução
Formato 14 x 21 cm
Número de páginas 240
Peso 300 g
Acabamento BROCHURA
ISBN 978-85-431-0181-1
EAN 9788543101811
Preço R$ 29,90

E-book

eISBN 9788543101828
Preço R$ 19,99

Leia um trecho do livro

Prefácio

Esta é a minha história. A história de alguém que cresceu como filha de um dos líderes evangélicos mais influentes da atualidade; perdeu as convicções religiosas em algum momento; e finalmente, depois daquele fatídico voo, reencontrou a fé – a mesma que, segundo duas pessoas de alma extremamente bela, estava comigo o tempo todo.

– Hannah Luce

1. O caminho para a redenção

“Quanto mais se chega perto do sonho, mais a Lenda Pessoal vai se tornando a verdadeira razão de viver.”

— Paulo Coelho, O alquimista

O sol do fim de novembro se põe no horizonte enquanto eu sigo para um milharal no sudoeste de Kansas, onde passei o pior dia da minha vida. Em minha mochila há um cobertor quentinho, uma vela aromática de lavanda e palitos de fósforo. Planejo permanecer algum tempo por lá. Ainda estou me recuperando dos ferimentos, por isso meus movimentos são lentos e incertos, mas não estou com pressa de superar o que aconteceu. Preciso passar por esse processo.

A primeira vez que estive nessa região rural do Meio-Oeste norte-americano foi há seis meses, em meados de maio. Era época de plantio, e o terreno estava tomado de majestosas plantações. Eu me lembro da paisagem ampla e verdejante que vi enquanto nosso avião descia sadicamente lento, mas com obstinação e ferocidade, rumo à terra abaixo. Qualquer coisa que eu esperasse ver estava perdida naquelas plantações. Não conseguia distinguir uma casa, um celeiro, um rio, um lago, um trator ou um carro. Nem mesmo uma estrada que parecesse movimentada o suficiente para levar a algum lugar. Sei de tudo isso porque, enquanto o avião caía do céu, eu já estava planejando minha sobrevivência, apesar de estar preparada para morrer.

Por mais que tente esquecer, lembro-me de todos os detalhes daquele dia infernal. Dos primeiros sinais de que o avião estava com problemas. Dos esforços desesperados dos meninos para tentar nos salvar. Da resignação que percebi nos olhos deles quando o que viria a seguir se tornou óbvio. (Era resignação? Ou fé?) Da análise que fiz das expressões de meus queridos amigos enquanto avançávamos para uma morte certa e horrível. Das últimas palavras. Senhor, tenha piedade. Cristo, tenha piedade. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

O milharal fica no meio do nada, à margem de uma estradinha de terra que só é conhecida por quem vive na região ou foi parar nela por algum motivo, como foi o meu caso. Acho que vim até aqui em busca de perdão por ter sido a única sobrevivente do acidente. Sei que tenho de ser misericordiosa comigo mesma antes que eu comece a tentar viver aquele tipo de vida com um propósito que meus amigos aprovariam. Até aqui, tudo o que senti foi a implacável culpa por estar viva enquanto meus amigos estão mortos, e o tormento ácido das minhas reflexões.

Às vezes, quando estou no banho, passo a mão sobre minhas cicatrizes, esperando apagar as lembranças daquele dia trágico. Mas isso nunca vai acontecer. As cicatrizes funcionam como um lembrete diário. Não dormi uma noite inteira desde o acidente. Todas as vezes em que fecho os olhos, acordo gritando pouco antes de o avião atingir o solo. É aí que a tortura de verdade começa, enquanto me remexo na cama com todas as luzes do quarto acesas, com medo de fechar os olhos de novo, resistindo às memórias assustadoras, ao mesmo tempo em que tento compreender algo que nunca vai fazer sentido.

Cinco pessoas estavam a bordo daquele avião, todos nós da Universidade Oral Roberts (ORU, na sigla em inglês) e ansiosos para ir a um evento organizado pelo meu pai, líder de um dos maiores ministérios cristãos juvenis no mundo. De todas aquelas pessoas, Austin Anderson e Garrett Coble eram meus amigos mais chegados, e eu tinha segundas intenções com Garrett, apesar de nunca ter conseguido lhe dizer isso.

Conheci Austin primeiro, pouco depois do início do segundo semestre na ORU, em 2009. Ele havia retornado recentemente de sua segunda incursão militar ao Iraque e estudava economia. Começamos a conversar um dia e, em pouco tempo, estávamos matando aula para fumar sob a ponte da rua Quarenta e Um, em Tulsa, onde nos sentávamos perto do rio e planejávamos o futuro.

Austin era o representante perfeito dos fuzileiros navais. Era alto e estava em boa forma, com cabelos loiros curtinhos e traços bem marcados de um menino do interior. Ele me contou histórias de quando estava no serviço militar e sobre os conflitos internos que tinha por precisar lutar, e eu o ajudei a enfrentar suas dificuldades com a fé geralmente sentida pelas pessoas que testemunham os efeitos profanos do combate. Ele disse que gostava de mim porque eu não me encaixava no estereótipo da maioria das meninas que estudam na ORU, ou seja, alguém que dirige o Mustang amarelo do papai e está desesperada para arranjar um marido. Eu aspirava a não ser esse tipo de pessoa, para desgosto dos meus pais cristãos fundamentalistas. Era meio rebelde, uma “livre-pensadora” presa no que eu entendia como uma cultura de mentes fechadas. Quando não estava estudando história da Igreja na biblioteca da faculdade, caminhava sozinha pelos bairros de vanguarda de Tulsa e parava em livrarias antigas para procurar livros raros sobre assuntos como ervas e feitiços, ou entrando em bares para me sentar em mesas comuns e compartilhar narguilé com estranhos.

– Você é hippie, Hannah – dizia Austin com seu sotaque do interior, balançando a cabeça e rindo. – Tem uma visão artística das coisas.

Austin era um conquistador. Ele passeava pelo campus como se fosse “o cara”, e quase sempre tinha uma horda de animadoras de torcida em seu encalço. Todas as meninas queriam conquistá-lo, mas minha relação com ele era estritamente platônica de ambos os lados e nós dois gostávamos que fosse assim. Ele estava o tempo todo tentando me empurrar para seu amigo Garrett, que era popular no campus e um pouco mais velho.

– Vamos lá, Hannah! – dizia Austin, cutucando-me alegremente. – Ele é um cara legal e realmente quer conhecer você!

Garrett lecionava marketing na ORU ao mesmo tempo que estudava para seu Ph.D. em administração na Universidade Oklahoma State. Eu sabia que Garrett existia porque ele era conhecido entre os alunos, mas nunca havíamos nos encontrado. Finalmente, um dia ele apareceu para almoçar com Austin no restaurante que serve a nossa costela preferida. Eu o achei fascinante, ainda que um pouco inquieto e impaciente. Garrett era sete anos mais velho do que eu e havia feito várias viagens missionárias ao redor do mundo, a maioria delas com o ministério do meu pai. Eu também fazia essas excursões, mas nunca tinha cruzado com ele. Compartilhávamos o mesmo amor por viagens e tínhamos uma sede inesgotável de conhecimento, mas nossa compatibilidade acabava aí.

Nunca vou me esquecer da primeira vez que abri o armário de Garrett. Ele tinha a mesma camisa polo em todas as cores. Era alinhado e conservador. Eu adorava batom vermelho e Bob Dylan. Acho que Garrett se sentia atraído por mim, pelo menos inicialmente, por causa do meu pai: a estrela do ministério cristão juvenil. Ele participou do acampamento cristão do meu pai mais de doze vezes quando era adolescente, e dizia que esses retiros tinham mudado sua vida. Eu costumava provocá-lo dizendo que ele tinha uma quedinha pelo meu pai.

Nossa relação se alternou entre a amizade e o romance naquele primeiro ano; nós nos sentíamos muito atraídos um pelo outro, não dava para evitar. Foi ele quem deu o primeiro passo para que houvesse qualquer intimidade entre a gente, sempre me convidando para caminhadas pelo parque na Riverside, perto da universidade, ou para banhos de ofurô na casa dele. Garrett tinha uma espécie de charme bobo que me atraía, algo que eu não conseguia admitir nem mesmo para mim mesma. A gente sempre se abraçava, se agarrava e se beijava. Coisas assim. Mas estávamos em momentos diferentes da vida. Ele estava preparado para se estabelecer e formar uma família. Eu era um espírito livre prestes a viver as várias aventuras que tinha planejado para o meu futuro.

Garrett e Austin eram, em essência, meninos do interior. Ambos cresceram em pequenas cidades de Oklahoma, em famílias com sólidos valores cristãos. Enquanto eu fazia de tudo para me distanciar do que entendia como minha opressiva origem religiosa, eles buscavam maneiras de colocar sua fé em prática. Na verdade, era para isso que estávamos indo a Council Bluffs, Iowa, naquele fatídico dia de maio. Eles trabalhavam no ministério do meu pai, ajudando a salvar uma geração de jovens cristãos. Eu estava indo para me aproximar do meu pai e tentar desfazer a decepção que ele sentia por eu ter me afastado de minha fé. Sem rumo, eu estava em busca da minha própria espiritualidade, enquanto eles mal podiam esperar para dar sua contribuição no sentido de mudar o mundo. Vou guardar como um tesouro as fotografias do nosso último dia juntos, tiradas pouco antes de o avião decolar. Eu queria documentar o início da nossa grande aventura. Ali estávamos nós, espremidos na parte de trás do avião, eles com camisas polo e calças cáqui, eu com meus óculos escuros enormes e de armação vermelha. Ergui minha câmera e fiz biquinho como uma supermodelo. Vamos lá, meninos! Sorriam! Mas eu não precisava lhes pedir isso. Eles acordavam sorrindo.

Austin e Garrett eram muito promissores e tinham as melhores intenções possíveis. Então por que morreram tão jovens, antes que tivessem a chance de realizar seus sonhos? Por que eu sobrevivi e eles não? Eu me fiz essas perguntas incansavelmente nos últimos meses. Sem conseguir respostas, sinto-me atormentada pela ansiedade e às vezes busco consolo em garrafinhas de rum e gim que mantenho por perto, sem que ninguém saiba, muito menos meus pais. Até mesmo quando tento fazer algo para anestesiar meus pensamentos, o alívio para os sentimentos de culpa e remorso é quase insignificante. Tenho me sentido desesperadamente sozinha em meu luto. Nos momentos mais críticos, recorro à minha mãe e ao meu pai em busca de… o quê? Perdão por ter sobrevivido? Salvação para não ter mais pensamentos sombrios? Todas as vezes que faço isso, eles me olham com aquela expressão de impotência – e, em alguns casos, acho que irritação – e me dizem para “entregar isso para Jesus”. Ah, se fosse tão fácil…

O campo onde caímos é vasto, com grandes áreas de carvalhos e freixos. Não sei exatamente em que ponto foi a queda do avião, então há muito espaço a ser percorrido, mas pedi para fazer esta viagem sozinha porque é algo pessoal demais para se compartilhar. Abrindo caminho pelos talos de milho, sou guiada apenas pelos meus instintos e pela luz da lua cheia que se insinua. Sou uma pessoa pequena – 1,58m e 46kg, da última vez que chequei –, um pontinho em meio ao campo aberto que se estendia à minha frente, mas, em vez de me sentir perdida ou aterrorizada, fiquei estranhamente contente, como quando visto a blusa preta gasta que guardo no fundo do meu armário, naquelas noites frias em que nada além disso consegue me aquecer. Este é o lugar que mudou minha vida e pôs em xeque quem eu era – uma menina rebelde e até cínica que questionava tudo a respeito de sua sólida criação cristã, até mesmo a existência de Deus. Não sou mais aquela pessoa, tenho certeza, mas não sei quem é a Hannah pós-acidente. Tenho esperança de encontrar algumas respostas nesta solitária paisagem agrícola. Só então vou poder recomeçar a viver.

A caminhada pelos campos é mais longa do que me lembrava. Exceto pelo barulho das pisadas sobre os talos de milho da última colheita do outono, o silêncio é sepulcral. Contra minha vontade, minha memória preenche o silêncio com o som frenético de um avião com problemas, e sou transportada de volta para aquele dia e a queda. Fico paralisada, mas alguma coisa – o quê? Uma mão nas minhas costas? – me empurra para a frente com cuidado. Hesitante mas determinada, sigo adiante. Alguns minutos se passam, e sei que estou perto do local do acidente porque a energia ao meu redor parece ganhar vida. Minha pele pinica de ansiedade. Isso me lembra aquele nervosismo que uma menina sente quando está no aeroporto esperando um garoto de que realmente gosta. Ela sabe que o avião dele já pousou e que ele está ali em algum lugar, no terminal, mas não o vê. Dou mais alguns passos, imaginando o que acontecerá a seguir e quanto ainda tenho de andar. Nesse momento vejo o que parece uma piscina de estrelas reluzentes. Tiro a lanterna da mochila e ilumino o local. Meu coração bate acelerado. A poucos metros de mim, espalhados ao redor de um enorme carvalho, estão milhões de pedaços de metal refletindo a luz do luar. Foi o que restou do nosso avião. Pego um punhado deles e guardo na bolsa. Considero isso um tesouro, os últimos vestígios das minhas preciosas amizades.

O carvalho se ergue sobre mim como dois braços protetores. Seu tronco está queimado e seus galhos, retorcidos. Foi aqui que o avião parou depois de chegar ao chão e seguir deslizando descontrolado. Eu me lembro de ter visto esta árvore quando passei sobre o corpo sem vida de Garrett, metade dentro e metade fora da aeronave, enquanto eu tentava escapar da cabine em chamas. A princípio fico paralisada, mas a música que minha irmã Charity escreveu para mim, numa tentativa de me animar, me vem à mente. Começo a cantar.

Liberdade, venha recitar sua melodia alegre

Para uma plateia ávida

E deixe sua melodia nos levar

Para um lugar que não conhecemos direito,

O lugar que consideramos nosso

E enquanto os galhos das árvores sofrem com o peso

Vou dançar

Ah, vou dançar

Deixe-a vir e tocar

Uma canção de descanso para um coração incansável

E na imobilidade de sua canção

Uma mente cansada é fascinada

E vamos caminhar sobre solo sagrado

Vestindo um som celestial

E quando a dor se abater

Vou chorar lágrimas de alegria

Vou sorrir

Ah, vou sorrir.

Um coro de uivos de coiotes se sobrepõe à minha voz diminuta. A matilha não está muito longe, mas não consigo vê-la por causa da escuridão. Os uivos se transformam no que parece ser uma gargalhada. Cresci nas planícies agrícolas do leste do Texas, então sei que eles me veem como invasora e por isso estão tentando me intimidar e me obrigar a deixar o seu território, mas não me assusto. Também pertenço a este lugar. Preciso estar aqui.

Desdobro meu cobertor aos pés da árvore e pego a vela e a caixa de fósforos na mochila. Ao riscar o fósforo, sinto a presença de Garrett e de Austin. É como se eles estivessem esperando por mim para se acalmarem. Sim, é uma presença física, não um desejo injustificável. Apesar da minha natureza inquisitiva, sei que são eles. Meus queridos amigos estão aqui comigo como estavam quando nos reuníamos sob a ponte, dividindo um cigarro e tomando cerveja juntos. Não consigo deixar de sorrir.

– Esperava que vocês estivessem aqui – digo. – Sabia que estariam. Vocês sempre estiveram presentes quando precisei, e nunca precisei de vocês tanto quanto agora.

Há poucos meses, se eles tivessem sugerido que eu conseguiria me comunicar com eles depois que morressem, eu teria gargalhado e dado início a uma sequência de palavrões. A tal ponto que Garrett, em toda a sua retidão cristã, teria se encolhido horrorizado, e Austin, o sr. Fuzileiro Macho, teria apontado o dedo para mim e me repreendido com seu melhor sotaque do interior de Oklahoma:

– Hannah! Você xinga como um soldado! Precisa aprender os modos de uma dama.

Meu Deus, como senti a falta de vocês dois!

Uma lufada de vento sopra e a chama da vela tremeluz e se apaga. A escuridão é absoluta e tento ouvir os coiotes, mas o silêncio é total agora.

– Sinto vocês – digo. – Sei que estão aqui. Tenho muito a dizer.

A temperatura claramente baixou e eu protejo minhas pernas com o cobertor.

– Austin, desculpe-me por eu não ter conseguido salvá-lo. Obrigada por cuidar de mim. Queria ter ocupado seu lugar no avião e odeio relembrar constantemente seu sofrimento. Me sinto muito fraca. Se ao menos eu tivesse sua coragem, sua determinação… Fico com raiva quando as pessoas me dizem que fui salva por um motivo especial. Que motivo? Por que tive a audácia de sobreviver? Por que eu em vez de você? Você tinha mais fé do que eu… E, Garrett, queria ter retribuído melhor o seu amor. Obrigada por ter me amado. Não tenho sua força nem sua determinação. Você era firme como uma rocha para mim. O que vou fazer agora que você não está aqui? Não sei nem mesmo como viver sem sofrer. Parte de mim não quer parar com essas lamúrias porque tenho medo de que, caso pare, um pouco de você desapareça. Outra parte de mim não consegue mais seguir em frente com esse tipo de dor… Por favor, meninos, por favor, me digam que vocês me perdoam.

As respostas não vêm por meio de vozes, mas ainda assim consigo ouvi-las. É como se os pensamentos deles estivessem sendo colocados na minha mente.

Estamos muito felizes, Hannah, e onde queríamos estar. Sabemos que a encorajamos, lhe demos apoio e enriquecemos sua vida. Mas algumas coisas você precisa descobrir sozinha. Pode ficar de luto, e nós gostamos disso, mas não pode durar para sempre. Você tem que dançar.

Penso na letra da canção da minha irmã:

E enquanto os galhos das árvores sofrem com o peso

Vou dançar

Ah, vou dançar

Vou tentar, digo. Por vocês. E por mim.

 

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Hannah Luce

Sobre o autor

Hannah Luce

Filha de Ron Luce, cofundador da Teen Mania, ministério que possui grande força no mundo evangélico. Aos 23 anos, fundou a Mirror Tree, uma organização sem fins lucrativos dedicada a reintegrar à sociedade mulheres refugiadas vítimas de estupro, genocídio, guerras civis, entre outros flagelos. Atualmente, vive em Chicago.

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